quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Brincadeira inocente

Na escola, numa sala de aula de 5a série, a professora conjuga com a turma o verbo entender. No início todos compartilham as respostas, depois uma brincadeira é sugerida e as crianças adoram. Um jogo anima a classe e faz com que todos participem.

A diversidade está por todos os lados e a escola é o primeiro ambiente real de sociedade para a criança. Existem, num mesmo espaço tantas pessoinhas diferentes.

O jogo começa e aquela garotinha tímida fala a resposta correta baixinho. Uma outra, tida como a espertinha, repete em voz alta e todos acreditam que ela é a mais inteligente. Tem também o menino introvertido que prefere escrever num papelzinho, ou fazer sinais da resposta para o colega. Assim, quem sabe, na hora do recreio o futebol possa ser de todos. Isso porque a garotada amigos, mas sabem ser seletivos até para compartilhar um divertimento. Uma troca, jogo de interesses num mundo ainda tão pequeno.

Então, o que deveria ser uma atividade saudável se transforma numa competição cruel. Logo alguns liderezinhos se destacam. Essas crianças começam a se comportar como poderosos e chegam a humilhar os colegas.

Será assim que se forma uma sociedade individualista, arrogante e sem compaixão? Algumas crianças conseguem quando adultas continuar jogando e usam as regras em todos os aspectos da vida.

Imagino que dessa maneira é que surgem os puxa-tapetes, as chefes arrogantes, os fura-filas, os caloteiros, os mau-caráteres. Que pena!


sábado, 26 de janeiro de 2008

Atelié improvisado

Não tem como passar batido. Na parte central da entrada principal do supermercado, um pequeno amontoado de pessoas olhando para baixo. Mesmo quem não é curioso pára e dá uma espiadinha. Foi o que fiz.

O que vi? um artista criando em seu atelié improvisado. Um homem com aspecto sofrido, mas sorrindo o tempo todo dizia: promoção de 15 minutos, fiquem espertos. Você compra um quadro por R$10 e ganha outro.

Ele pega de uma pequena pilha de pisos - isso mesmo: pisos para acabamento de construção, com as mãos ele escolhe uma cor e começa a sua arte. Em segundos, uma paisagem surge. Nem é possível acompanhar seus gestos. Ele vai borrando e espalhando a tinta com os dedos. Ora com pedaços de esponjas ora com um paninho, feito de toalha rasgada vai criando efeitos naquele piso que já se transformou num quadro.

É tão rápido que tentei deduzir qual seria a obra, o resultado final, mas não deu tempo. Um piscar de olhos e ele avisa: pronto, agora é só esperar a secagem por 12 horas e depois, se sujar, pode lavar, limpar que não estraga.

Ao lado dele fica uma moça de tranças que 'embala' o quadro. Perto dela, ficam tiras de papelão. Ela pega um pedaço que parece ter sido a tampa de uma caixa, coloca o quadro no centro e dobra as laterais do papelão de forma que só a parte pintada fique exposta. É a garantia de que nada encoste e estrague a pintura. Com dois elásticos prende em cruz o ex-piso e dá para o consumidor.

O artista olha para longe e grita: chefe? mais 5 minutos de promoção? Nesse momento, todos tentar encontrar o destino do olhar dele, mas, o que se vê são pessoas num supermercado que vem e vão, a única 'pessoa' parada naquela direção é de papelão num propaganda com gatorade na mão. Uma encenação que só dá mais graça ao talento anônimo.

Uma familiazinha não resiste e pára para ver. Um sinal com a cabeça, o artista entende, pega outro piso, escolhe as tintas e mãos à arte!


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O bater de asas da borboleta e a transformação

Quando se vê uma borboleta, a sensação é de leveza, liberdade e beleza à primeira vista. Mas, depois lembramos que esse inseto, por sua natureza, entra no casulo lagarta e sai uma borboleta. É a metamorfose, fenômeno que simboliza a transformação, a ressurreição para uma vida nova e gloriosa, livre de conceitos materiais e repressões. A borboleta é a humanidade frágil, representa a brevidade da vida.

Além disso, é fácil vir à mente a expressão “efeito borboleta”, denominado, em 1963, por Edward Lorenz, como um fato no qual uma borboleta, batendo suas asas na muralha da China, pode provocar uma tempestade em Nova York, ou seja, fenômenos em que um pequeno fator provoca grandes transformações são mais comuns do que se pensa.

A idéia de que na vida pequenos gestos podem resultar em grandes alterações está presente em cada instante do nosso dia-a-dia.

Entendendo dessa forma, torna-se clara e pertinente a imagem da borboleta batendo as asas nos primeiros segundos de “Por amor a uma criança”, filme de Duane Poole, dirigido por Douglas Barr, baseado no livro “Silence Broken, de Sara O’Meara.

Após a cena do bater de asas da borboleta, a tela é preenchida com a expressão angustiante do rosto de um garoto num ônibus. Ao chegar em casa, ele, tentando fugir do pai furioso, se esconde dentro e um armário de roupas. Diante desse clima de violência, a mãe tapa os ouvidos. Com medo, o garoto pega o telefone e faz uma ligação pedindo ajuda.

Do outro lado da linha, enquanto uma mulher o acalma e pede informações ao garoto, a ligação é rastreada, em 45 segundos. Quando a polícia chega a casa, os pais atendem à porta com a imagem de família feliz e diz que a ligação não passava de um trote. Mas, a polícia desconfiada, entra e se depara com o menino amarrado.

Nesse ponto, as imagens do filme levam o espectador a Tóquio, em 1959, quando novatas atrizes do cinema de Hollywood cantam para as tropas de soldados americanos durante a guerra no Vietnã.

Durante uma tempestade, as duas jovens, vestidas de branco, estão num carro que pára por causa da chuva e têm os olhares e a atenção despertados para algumas crianças sozinhas que se protegem do frio.

Para muitos, aquela cena - de crianças desabrigadas e sem agasalho, passaria despercebida, mas a reação das moças, Sara e de Yvonne, foi impulsiva e para o bem. Sem hesitar, elas vão até os pequenos japoneses e, mesmo não se entendendo pelas palavras, foi nítida a necessidade e a urgência de ajuda.

O gesto de levar as crianças para o hotel, banhá-las, dar alimento e agasalho foi natural. Era como se não houvesse alternativa. Nesse momento, o espectador pode se questionar se tomariam aquela atitude se estivesse naquela situação.

As 11 crianças eram fruto de relações de soldados americanos com japonesas. Essas amerasians - japonesas/ americanas - eram rejeitadas pelas famílias e também pelos orfanatos, pois eram crianças mestiças.

Mais uma vez, e assim é até o final do filme, o espectador é levado ao passado e trazido ao presente na seqüência. As cenas de flasback tentam mostrar a trajetória de Sara e de Yvonne, em três estágios: aos 20, aos 30 e aos 60 anos de idade. Aos poucos, pode-se notar que as 11 crianças abandonas, em 1959, foram o bater de asas da borboleta que culminou na fundação de uma organização, Childhelp USA, para prevenção, resgate e tratamento de crianças em situação de maus tratos, negligência e abandono.

De volta ao tempo atual do filme, Jacob, ainda angustiado e nervoso, é levado à organização, com a fachada “Todos que entrarem aqui encontrarão amor”. O garoto tem expressões de medo e não se sente à vontade. Sempre agarrado ao bichinho de pelúcia, olha desconfiado para tudo e para todos. Com o corpo encolhido e com o olhar vindo de baixo, ele é muito inquieto ao dormir e tem repulsa a ser coberto.

Quando ele acorda, o garotinho Michael, que dormia ao lado, vai até Jacob e conta sobre a sua mãe, que ela o deixava acender o cigarro. Quando o menino se vira para se deitar novamente, nas costas dele estava escrito com marcas de cigarro: BAD BOY.

As cenas de flashback mostram que Sara e Yvonne parecem não se conformar com a resistência em aceitar aquelas crianças. Eram apenas crianças. Foram de orfanato em orfanato em busca de cuidados e abrigo para os mestiços. Até que encontraram uma mulher, Mama Kin, que já acomodava algumas dessas crianças abandonadas. Mas não tinha nem espaço, nem recursos para mais aquelas.

Era como se o olhar de uma dissesse algo para a outra e logo a solução vinha da dupla que no dia seguinte cantava de vestidos pretos para os soldados. Durante a canção, pediam, com muito charme e alegria, ajuda para as crianças abandonadas. Todos ajudam. O coronel, ‘chefe’ delas, diz: “Vocês querem mudar o que os governos não fazem. É uma causa impossível. Contratei artistas e não assistentes sociais”. As garotas perguntam ao coronel: “O que faria se fossem seus filhos?”.

Em seguida, são caminhões estacionando e os soldados descarregando sacos de alimentos no abrigo da Mama Kin. Assim, ficou clara a idéia de tratar aquelas crianças como se fossem seus filhos.

Anos passaram. Em 1978, Sara e Yvonne estão negociando espaço para a instituição, com o Bispo O’Connor que aceita vender o terreno por U$1,800 milhões.

A partir daí, as histórias se encontram. A Childhelp ganha prioridade na trama. O foco agora é a organização – a trajetória das garotas dá lugar ao desenvolvimento do trabalho da equipe que no dia-a-dia cuida e luta pela vida em segurança de crianças ali abrigadas.

O espectador, nesse instante, assim como o personagem Jacob, toma conhecimento de que ele e o seu companheiro de quarto não são os únicos a sofrer com a violência dos pais.

Laura é uma menina que tem uma cicatriz do lado direito do rosto – o sinal foi provocado por uma navalha nas mãos do namorado da mãe, Jonhny. Laura usa tintas vermelhas em seus quadros. O que parece ser um auto-retrato: um rosto azul com lágrimas e um símbolo . Quando Laura vê a água saindo da torneira, ela diz ”não me obrigue”. Jonhny, que cumpre 10 meses de prisão, a colocava na banheira com água bem quente e a trancava no armário.

A mãe da garota vai visitá-la e a quer de volta. Não é o desejo de Laura, mas ela se preocupa com a irmãzinha que pode precisar dela quando Jonhny sair da cadeia. Mesmo assim, tem consciência de que ainda não está preparada. É uma criança adulterada pelas experiências negativas. Outro ponto é a cicatriz, que ela diz que saberá hora de retirá-la, quando conversa com sra. Graysson.

Essa, por sua vez, também tem espaço no filme. Quando ela chega em casa, do trabalho da Childhelp, se depara sempre com o seu conflito com a filha adolescente que menospreza a ajuda promovida às crianças, chamando-as de retardadas. Derruba algumas folhas no chão, ao pegar a garota se sensibiliza com os desenhos feitos pelas crianças.

Os pais de Jacob vão à Childhelp para buscá-lo. Sara e Yvonne não permitem. Nessa noite, Jacob foge da instituição, mas o rapaz (quase morto duas vezes pela mãe alcoólatra) que cuida do rancho e dos animais vai buscá-lo. Compreende a fuga, e sabe que é por causa da visita dos pais, Jacob não quer voltar para casa.

Jacob, que fala só em 3ª pessoa, enterra um bonequinho. Logo é percebido algum trauma. Quando investigam o quintal da família dele, cavam e encontram um pé do tênis do menino. Jacob conta que o pai dele o havia enterrado e dado um canudo para ele respirar.

Essa foi a justificativa para mandar prender os pais de Jacob e eliminar a chance de ele tê-lo de volta um dia.

Por Amor a uma Criança” chega ao fim do segundo estágio com Sara e Yvonne apreensivas com a decisão de Laura, já sem a cicatriz, voltar para casa e com Michel tendo retornado à mãe. Com o sentimento de impotência e de insegurança também estava Graysson. Elas temem que as crianças não fiquem seguras, sem o apoio e a proteção da Childhelp.

Na manhã seguinte, a notícia da morte da Michael chega à instituição. A sensação é de culpa. Sara e Yvonne se confortam e tentam não se sentirem culpadas por terem deixado o garotinho ir embora.

As duas horas de filme terminam com Jacob adulto, cursando medicina e trabalhando pela organização que partiu num bater de asas de borboletas em Tóquio e que salvou mais de 3 milhões de crianças nos Estados Unidos e Canadá.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Balzac entende de mulher

Muitos já ouviram ou usaram o termo "balzaquiana" para designar certo tipo de mulher. Mas nem tantos, realmente, chegaram a ler A Mulher de Trinta Anos, de Honoré de Balzac, escritor francês viveu na primeira metade do século XIX.

A história tem foco no destino da mulher na sociedade e, em especial, dentro do casamento. A personagem Júlia d`Àiglemont é o primeiro grande retrato da mulher casada em meio a seus sofrimentos e decepções. Esse foi apenas um breve histórico para que possamos entender o valor de nossas escolhas que, muitas vezes, bate de frente com a sociedade que cobra pesado atitudes e decisões, não só da mulher, mas também do homem.

Balzaquianas e, por que não chamarmos os homens com mais de 30 anos para essa discussão, balzaquianos são tidos como mal-amados, frustrados, frios, exigentes demais, e outros tantos adjetivos que diminuem pessoas com mais de 30 anos que ainda moram com os pais.

Para os homens, a comodidade é o que adia a decisão pelo casamento. Eles dizem que é fácil dormir no mesmo quarto da adolescência, ter comida, roupas e o melhor o paparico dos pais – que para esses, com 30, 40 anos são filhos e precisa deles.

Já para as mulheres, ter optado pelo aspecto profissional é a chave pelo adiamento de uma união estável. A justificativa é que para o homem é possível casar, trabalhar e estudar, mas para a mulher é complicado por conta da chegada dos filhos.

Para elas, a maternidade define a prioridade. A mulher ainda está muito arraigada no limite para o corpo poder gerar filhos. A idade – 30 anos – é julgada tardia tanto para casar quanto para engravidar. É algo a ser esclarecido numa outra ocasião.

O fenômeno mulheres e homens na casa dos pais é alvo da dissertação de mestrado da psicóloga Célia Regina Henriques, da PUC do Rio de Janeiro, Geração Canguru: o Prolongamento da Convivência Familiar. Terapeuta de família, Célia pesquisou as motivações de pais e filhos que vivem essa situação em famílias de classe média da zona sul do Rio de Janeiro.

Essa geração de balzaquianas e balzaquianos são sempre atacados pelos vizinhos, parentes, amigos casados com perguntas que, se feitas de forma coerente, não incomodam.

Essas pessoas parecem se admirar com o fato do não-casamento. A partir dos 26, 27 anos as perguntas surgem: ‘e aí, não vai casar não?’, ‘por que você não casou ainda?’, ‘você não pensa em morar sozinho, então?’, ‘nem filhos você quer ter?’, ‘precisa correr hein, a idade vem chegando’, ou ainda pior ‘eu, na sua idade já tinha até me separado e estava com dois filhos’.

A impressão que dá é que o objetivo de todo e qualquer ser humano é constituir família. Mas, será que é ‘obrigação’ que seja numa idade ‘padronizada’?

A sociedade não questiona a sua felicidade, o seu trabalho, o seu estudo, suas conquistas profissionais e acadêmicas ou até as amorosas. Todos acreditam que tudo isso tinha que ter sido concretizado na juventude, no máximo até os 25 anos.

A estabilidade, se tiver que chegar, que seja até então. Mas, se aos 25, por exemplo, não deu para comprar uma casa, um carro, ter uma profissão e um emprego bom, esqueça. Agora a preocupação deve ser outra: o casamento. Não dá para esperar.

Será que a idade determina um destino? Parece frase de novela, mas uma escolha direciona a vida para um lado que talvez não seja aquele desejado por você, mas por uma pressão dos outros.

Não é por que a maioria dos amigos se casou e hoje tem até filhos adolescentes que você tem que se sentir menos importante. Eu sei que isso é o que sentimos diante deles – uma família completa. Mas, e daí? Quais são as minhas prioridades?

É só prestar atenção numa conversa onde a amiga-esposa-mãe-dona de casa... Fala sobre a sua vida. Tudo faz parecer que você ainda não tem vida própria. Num certo momento você começa a descrever suas conquistas... O papo acaba aí. As diferenças são tantas, os conhecimentos são outros, as necessidades não se assemelham.

Deve ficar claro aqui e para a sociedade atolada numa tradição sem justificativa que estar com mais de 30 anos e não ter constituído família significa uma escolha. Uma breve passadinha na história de Balzac: O livro nos revela os sofrimentos da mulher incompreendida que não encontrou no casamento a realização de seus sonhos. Balzac é um dos primeiros a focalizar o drama da incompatibilidade de casais. Prestou um serviço imenso às mulheres, ao esticar para elas a idade do amor.

Antes dele, todas as namoradas de romance tinham vinte anos. Ele prolongou até os trinta, quarenta anos, sua vida ativa, idade que considerava o melhor da vida amorosa da mulher. Pois então, mulheres e homens moram com os pais porque a casa se transformou num ambiente agradável, onde pais e filhos são amigos. O convívio é democrático. Não é um martírio ou incapacidade financeira ou ainda falta de casamento. Viver na mesma casa com os pais é uma experiência emocionante, já que todos são adultos e compartilham tudo. Essa condição não pode ser ter rótulo de vergonha, mas de sim de dignidade e respeito.

Seja qual for o motivo de sua escolha pela prioridade. Aceite-a e diga o porquê claramente.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Respeito a minha intuição

Tenho um compromisso: ir visitar uma amiga que há meses não vejo. De início fico animada. Vamos colocar o papo em dia. Tanta coisa para contar. Por mais que nos falemos ao telefone, pessoalmente é tão melhor!!! Mas, depois, sentada na cama, olhando para as suas roupas com as portas do guarda-roupa abertas, ouço uma voz dizendo bem baixinho que é melhor não ir.

Não é um ouvir real, mas é uma sensação como um aviso, sei lá. Ela se manifesta várias vezes. Não sei exatamente de onde vêm esses sussurros. Mas não consigo ignorá-los. Simplesmente a chamo de sexto sentido ou intuição. Sabe aquela de: tem alguma coisa me dizendo para não ir. Costumo chamar isso de intuição, um sinal.

Tem gente que acha isso uma bobagem imensa ou trata essa possibilidade com descaso. Dizem: nunca senti isso, que absurdo! Não vejo dessa forma. Se posso adiar, é isso que faço.

Nunca ignoro o que a intuição tenta me dizer. É um alerta. Ignorar é como menosprezar os trovões, o céu escurecendo mostrando que vai chover. Diante disso, eu me previno. Carrego uma sombrinha se for sair, tiro as roupas do varal, fecho as janelas, …

Fazendo isso, eu confio num sinal e tomo as providências, conforme o aviso. Se sinto um friozinho na barriga mostrando que é necessário adiar alguma decisão, não ligar para aquela pessoa hoje, ir por um caminho e não por outro. Obedeço à sabedoria interior. Uma escolha errada muda todo o curso de uma história.

Assim foi em Sliding Doors (De caso com o acaso), dirigido por Peter Howitt. Esse filme é de 1998, e mostra bem a necessidade de prestar atenção aos sinais e saber das conseqüências das escolhas que fazemos na vida. A história começa quando a personagem Helen, vivida por Gwyneth Paltrow está prestes a pegar o metrô. O filme se divide: se ela pega o trem naquele momento uma série de acontecimentos leva a vida de Helen para um rumo e se ela não pega, os fatos são diferentes e o caminho também é outro.

Esse filme mexe bastente comigo. Desde o momento que assisti, de vez em quando eu paro, penso, tento resgatar a escolha, a decisão maluca e impulsiva muitas vezes, que me levaram a determinada condição. O mesmo acontece quando uma pessoa que conheço, do nada, me encaminha a pensamentos diferentes, a lugares impensados e a situações surpreendentes. Acaso? sincronicidade? destino? seja o que for, fico atenta!


terça-feira, 8 de janeiro de 2008

As palavras falham

Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade.
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas pensada,
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos, ....

Alberto Caeiro

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Desenho animado: tempo útil ou perdido?

Quando o assunto é criança, toda conversa me interessa. Às vezes, percebo as pessoas conversando sobre comportamento agressivo e noto como frase freqüente: “Antigamente era diferente”! Essas pessoas atribuem as atitudes violentas dos pequenos aos desenhos animados. Dizem que agora todo tipo de desenho tem luta, briga, armas... Aí tento me lembrar dos que eu assistia. Pica-pau, por exemplo, é pura violência, é um batendo no outro e apontando armas durante todo o desenho. Hoje, percebo nas animações, que há uma lógica. Eu explico: a luta não é simplesmente uma violência, tem o conceito do bem e o do mal, cito Cavaleiros do Zodíaco. As crianças são incentivadas a torcer pela vitória daqueles que estão do lado do bem.

Penso que a influência de um desenho animado no comportamento da criança depende da vida dela dentro e fora de casa, ou melhor, uma criança que tem uma vida tranqüila com a família e com os amigos pode absorver de forma completamente diferente de outra criança que tem uma vida conturbada, cheia de problemas em casa e/ou na escola.

Desenhos que oferecem no seu conteúdo: valores éticos, morais e modelos de comportamentos e de atitudes importantes para a formação da criança podem ensiná-las a agir da mesma forma, já que toda criança tem a tendência a copiar o que vê. Entretanto, não é preciso procurar muito na programação infantil para se deparar com cenas de violência.

Os mais tradicionais e de estrutura aparentemente inocente e divertida, na maioria das vezes, podem conter nas atitudes dos personagens não só violência, mas também exemplos de comportamentos não-recomendáveis, tais como: traição, deboche, humilhação, inveja. Esses sãos sentimentos que uma criança consegue, com facilidade, distinguir? Talvez. Porém, se a postura ruim do personagem do desenho “se der bem” por agir de forma incorreta, por exemplo, toda e qualquer criança fica sem a noção de certo e errado, cria-se um desequilíbrio entre o positivo e o negativo. Ou ainda, se um comportamento desonesto for transmitido pelo desenho como uma piadinha. O errado será engraçado? É importante ter cuidado com o que os desenhos ensinam.

Há, ainda, desenhos no qual existem problemas a serem resolvidos, assim a criança participa do mecanismo de planejamento da estratégia a ser utilizada pelo bem contra o mal. Mas, é indispensável que criança perceba a não-necessidade da violência para resolver os conflitos, os problemas e as confusões da história.

Por conta disso tudo, é imprescindível que os adultos, sejam eles pais, professores, qualquer pessoa que lida com crianças, sempre esclareçam os tópicos expostos no conteúdo do desenho, façam comentários a respeito das atitudes tomadas pelos personagens e o porquê de cada uma delas e de suas conseqüências.

A criança tem capacidades limitadas de análise e de raciocínio, sendo um receptor passivo das informações transmitidas pelos desenhos animados. Mas, se houver de alguma maneira, uma discussão das mensagens recebidas, a criança terá a oportunidade pensar, conversar, interpretar e aprender o melhor exemplo a seguir. Sendo assim, a criança poderá usufruir de maneira produtiva o tempo de exposição à TV.

É, sim, possível equilibrar o processo de assimilação do desenho animado entre as crianças. Cabe aos adultos responsáveis utilizar de forma sábia o que lhes é oferecido. A qualidade do produto - ‘desenho animado’ - depende do é feito das mensagens, o que e como a absorção deve acontecer. Essa absorção precisa ser monitorada pelos pais e dirigida para um aprendizado útil. Simplesmente deixá-las ‘ocupadas’ na frente da TV não é o melhor caminho para uma boa educação. As crianças precisam de apoio para não para tirarem suas próprias conclusões.

O trabalho deve ser dos pais, irmãos mais velhos, professores, de todas as pessoas envolvidas com crianças. Pelo menos, pedirem para contar a historinha de um desenho que tenham assistido. Depois é importante conversar e usar o desenho como ferramenta para um ensinamento. Com essa postura inteligente, o desenho animado pode ser sempre um instrumento de educação e não de tempo perdido.


sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Suco de laranja interrompido

Não sei quem é aquele homem, mas me lembro de quando o vi pela primeira vez ali na calçada da Bernardino de Campos (Paraíso), na esquina do posto de gasolina. Estava indo ao trabalho, quando ela montava uma mesinha, com um espremedor manual de laranjas e ajeitava um saco dessa fruta ao lado. No dia seguinte, naquele mesmo lugar lá estava ele, se dividindo e se multiplicando para cortar as laranjas, espremê-las, colocar o suco no copo e receber e dar o troco aos clientes que aguardavam, talvez, o primeiro alimento do dia.

Durante quase um ano, vi aquele homem fazendo esse trabalho sozinho. Há alguns meses, imagino que por não dar conta de tantas laranjas, havia um rapaz que, enquanto o outro espremia a fruta, as cortava. Assim, o atendimento era mais ágil e, é claro, as pessoas que ali compravam estavam, pareciam sempre apressadas – como todos na cidade.

Aquele suco já fazia parte da manhã de muitos. Outros decidiam tomar um copo, enquanto aguardavam o verde para atravessar a rua. Tinha dias em que até fila se formava em frente àquela mesa.

Por vezes, ao observar aquele trabalho, com alimentação, pensei na questão da higiene, das bactérias que ali poderiam estar. Mas, minha opinião sobre aquele homem e depois também sobre o outro ficou focada na valorização do trabalho. Informal, eu sei, mas será que eles não gostariam de estar com os benefícios de uma ocupação com carteira registrada? Não sei mesmo. Talvez não.

Mesmo assim, imagino aquele homem, já com uns 50 anos, em casa sem esperança nem chance de conseguir um emprego, até porque pode ser que nem tenha qualificações exigidas pelo mercado. É claro que ele tem experiência em alguma atividade. Mas, quem valoriza? Reconhece e confia? Será que ele teria oportunidade para participar de um processo seletivo e ser considerado capaz, mesmo sendo?

Pode ser ingenuidade minha acreditar que aquele homem seja honesto, trabalhador e apenas não tenha tido chance de ser bem-sucedido. Mas, ainda que não seja nada disso, não me senti bem hoje pela manhã, quando lá estava ele, assim como todos os dias, vendendo o seu suco de laranja quando a fiscalização prefeitura e a polícia civil chegaram.

Umas 8 pessoas que ainda aguardavam o suco ficaram olhando os fiscais colocarem todo o material de trabalho daquele homem na Kombi. Até ele ajudava a carregar o saco de laranja!


quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

A euforia do agora-tudo-vai-ser-melhor

O brilho dos fogos na virada do ano se assemelha muito ao brilho nos olhos dos que têm fé nessa outra chance. Sim, o calendário faz isso: ele nos faz acreditar que temos uma nova oportunidade de encontrar a felicidade, seja por meio do reconhecimento e satisfação na vida profissional, do restabelecimento da saúde de alguém querido, da conquista daquela pessoa com quem quer passar ‘o resto de sua vida’, da realização do sonho de ser mãe/pai. Cada um tem sempre algo que almeja!

As festas, vestir branco, simpatias, promessas, o barulhaço e a beleza dos fogos de artifício. Esses símbolos anunciam mais 365, ops, desta vez são 366 dias, um a mais na nossa vida.

Todos ficamos contagiados pelo clima de entusiasmo. Até as pessoas que não conhecem se abraçam calorosamente desejando que o ano seja repleto de ‘paz, saúde, amor e sucesso’. Mais estranho é observar o comportamento de pessoas que se vêem todas as manhãs, mal se olham, tampouco se cumprimentam, e que nesses dias se sentem livres de qualquer rancor, preconceitos, mágoas e se rendem à magia do início de um novo ano! Dizem até que essa é a época das reconciliações. Isso é digno de aplauso! Mas que esses sentimentos perdurem.

Percebo as pessoas mais sensíveis nesses primeiros dias. Uma alegria, uma disposição maior para a vida. Até a retomada dos afazeres comuns ganham um certo entusiasmo. O importante agora é manter a euforia do agora-tudo-vai-ser-melhor, a alegria e o brilho nos olhos todos os dias. Que todos os amanheceres sejam merecedores de brindes e de fogos!