Muitos já ouviram ou usaram o termo "balzaquiana" para designar certo tipo de mulher. Mas nem tantos, realmente, chegaram a ler A Mulher de Trinta Anos, de Honoré de Balzac, escritor francês viveu na primeira metade do século XIX.
A história tem foco no destino da mulher na sociedade e, em especial, dentro do casamento. A personagem Júlia d`Àiglemont é o primeiro grande retrato da mulher casada em meio a seus sofrimentos e decepções. Esse foi apenas um breve histórico para que possamos entender o valor de nossas escolhas que, muitas vezes, bate de frente com a sociedade que cobra pesado atitudes e decisões, não só da mulher, mas também do homem.
Balzaquianas e, por que não chamarmos os homens com mais de 30 anos para essa discussão, balzaquianos são tidos como mal-amados, frustrados, frios, exigentes demais, e outros tantos adjetivos que diminuem pessoas com mais de 30 anos que ainda moram com os pais.
Para os homens, a comodidade é o que adia a decisão pelo casamento. Eles dizem que é fácil dormir no mesmo quarto da adolescência, ter comida, roupas e o melhor o paparico dos pais – que para esses, com 30, 40 anos são filhos e precisa deles.
Já para as mulheres, ter optado pelo aspecto profissional é a chave pelo adiamento de uma união estável. A justificativa é que para o homem é possível casar, trabalhar e estudar, mas para a mulher é complicado por conta da chegada dos filhos.
Para elas, a maternidade define a prioridade. A mulher ainda está muito arraigada no limite para o corpo poder gerar filhos. A idade – 30 anos – é julgada tardia tanto para casar quanto para engravidar. É algo a ser esclarecido numa outra ocasião.
O fenômeno mulheres e homens na casa dos pais é alvo da dissertação de mestrado da psicóloga Célia Regina Henriques, da PUC do Rio de Janeiro, Geração Canguru: o Prolongamento da Convivência Familiar. Terapeuta de família, Célia pesquisou as motivações de pais e filhos que vivem essa situação em famílias de classe média da zona sul do Rio de Janeiro.
Essa geração de balzaquianas e balzaquianos são sempre atacados pelos vizinhos, parentes, amigos casados com perguntas que, se feitas de forma coerente, não incomodam.
Essas pessoas parecem se admirar com o fato do não-casamento. A partir dos 26, 27 anos as perguntas surgem: ‘e aí, não vai casar não?’, ‘por que você não casou ainda?’, ‘você não pensa em morar sozinho, então?’, ‘nem filhos você quer ter?’, ‘precisa correr hein, a idade vem chegando’, ou ainda pior ‘eu, na sua idade já tinha até me separado e estava com dois filhos’.
A impressão que dá é que o objetivo de todo e qualquer ser humano é constituir família. Mas, será que é ‘obrigação’ que seja numa idade ‘padronizada’?
A sociedade não questiona a sua felicidade, o seu trabalho, o seu estudo, suas conquistas profissionais e acadêmicas ou até as amorosas. Todos acreditam que tudo isso tinha que ter sido concretizado na juventude, no máximo até os 25 anos.
A estabilidade, se tiver que chegar, que seja até então. Mas, se aos 25, por exemplo, não deu para comprar uma casa, um carro, ter uma profissão e um emprego bom, esqueça. Agora a preocupação deve ser outra: o casamento. Não dá para esperar.
Será que a idade determina um destino? Parece frase de novela, mas uma escolha direciona a vida para um lado que talvez não seja aquele desejado por você, mas por uma pressão dos outros.
Não é por que a maioria dos amigos se casou e hoje tem até filhos adolescentes que você tem que se sentir menos importante. Eu sei que isso é o que sentimos diante deles – uma família completa. Mas, e daí? Quais são as minhas prioridades?
É só prestar atenção numa conversa onde a amiga-esposa-mãe-dona de casa... Fala sobre a sua vida. Tudo faz parecer que você ainda não tem vida própria. Num certo momento você começa a descrever suas conquistas... O papo acaba aí. As diferenças são tantas, os conhecimentos são outros, as necessidades não se assemelham.
Deve ficar claro aqui e para a sociedade atolada numa tradição sem justificativa que estar com mais de 30 anos e não ter constituído família significa uma escolha. Uma breve passadinha na história de Balzac: O livro nos revela os sofrimentos da mulher incompreendida que não encontrou no casamento a realização de seus sonhos. Balzac é um dos primeiros a focalizar o drama da incompatibilidade de casais. Prestou um serviço imenso às mulheres, ao esticar para elas a idade do amor.
Antes dele, todas as namoradas de romance tinham vinte anos. Ele prolongou até os trinta, quarenta anos, sua vida ativa, idade que considerava o melhor da vida amorosa da mulher. Pois então, mulheres e homens moram com os pais porque a casa se transformou num ambiente agradável, onde pais e filhos são amigos. O convívio é democrático. Não é um martírio ou incapacidade financeira ou ainda falta de casamento. Viver na mesma casa com os pais é uma experiência emocionante, já que todos são adultos e compartilham tudo. Essa condição não pode ser ter rótulo de vergonha, mas de sim de dignidade e respeito.
Seja qual for o motivo de sua escolha pela prioridade. Aceite-a e diga o porquê claramente.
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