domingo, 11 de maio de 2008

Bem que esse espaço...

... poderia ser, de verdade, o lugar onde eu depositaria meus pensamentos, opiniões, sentimentos e devaneios - essa é a proposta, mas vejo que coloco a máscara da conveniência nas palavras.

Esse momento me faz lembrar as agendas que preenchia na adolescência. Toda noite antes de dormir, escrevia os momentos marcantes do dia, mesmo cansada e com muito sono. Muitas vezes até deixava de dar aquela revisada na matéria da prova que teria na primeira aula da manhã seguinte.

Eram relatos de experiências boas e/ou ruins. Às vezes, me lembro bem, não tinha nada para escrever ou até o dia tinha sido tão ruim que não merecia ser registrado. Queria mesmo era esquecer. Para não deixar o dia em branco colova adesivos ou copiava a letra de uma música.

Não me importava com as palavras. Apenas 'contava' para aquele 'diário', do meu jeito, o que achava que era a vida. Doces preocupações com a lição, o menino de quem gostava, uma conversa com amigas, um conflito em casa, um passeio com a classe e fofocas.

Naquela época era fundamental colar o papel da bala que X deu, o bilhetinho de Y, o guardanapo da lanchonete, coisinhas que acumuladas faziam um volume... que a agenda depois do meio do ano ficava a 45% para fechar e era preciso um elástico para não perder a 'memória'.

Era um apego tão gostoso que tinha com a agenda do ano, que carregava comigo o tempo todo. Bom, acho que apego não é a palavra adequada. Talvez era medo mesmo. Sim, essa é palavra que exprime o sentimento maior.

É claro, naquelas páginas estavam minhas alegrias e decepções mais íntimas. Eu, apenas eu poderia ter acesso. E se alguém lesse? O que iria pensar de mim? Não quero nem imaginar! Por isso, tinha todo cuidado do mundo para não deixá-la 'solta' pela casa ou à vista na mochila.

De vez em quando, me fechava no quarto, abria no dia em que eu tinha descrito em detalhes aquela festinha na garagem de X. Era tão bom voltar no tempo! Hoje consigo sentir até o cheiro do perfume que eu usava!

Demorei anos para colocar aquelas lembranças para reciclar. Antes de descartá-las em forma de papel dei uma lidinha, ri e chorei muito. Mas, a maior satisfação que tive foi me ver há 15, 20 anos tão honesta comigo. Sem mascarar as palavras para expressar o que sentia. Fui verdadeira!

Hoje, me vejo aqui, diante desse espaço pedindo para que eu compartilhe meus pensamentos, mas não me sinto à vontade porque esse aqui não cabe na bolsa, nem posso esconder de vocês. E o pior: não dá para colar nada!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Resgate da essência

É tão comum esperarmos demais daqueles que estão com a gente o tempo inteiro. Pensamos que essas pessoas sabem de nossas reais necessidades. Talvez até saibam, mas simplesmente fingem não ver. Desanimador pensar assim.

Mas, o inesperado nos ressuscita: duas pessoas, um charme, um papo, coisa rápida. O suficiente para criar um momento. Ou, de tão breve, um instante.

Poucas palavras, alguns sorrisos, olhares e muitos gestos que aproximam. Um romance? Quem é que está falando nisso?

É um jogo de conquista. Ninguém quer ganhar, nem perder. Apenas viver míseras horas ou minutos de plenitude na vontade simples de se sentir bem! E essa vontade é mútua, se não fosse, não haveria a reciprocidade no dar e receber.

Quando há essa troca, tudo é intenso. Carinho, toque e intimidade apenas pela fome e pela sede do que queremos sentir.

Parece um extravasar de sentimentos compartilhados com a gente mesmo. É o sistema da recompensa agindo. Gritamos por isso. Temos direito à recompensa. Clamamos por isso. Seja para apagar as palavras rudes de um qualquer na rua ou para esquecer os gestos agressivos daquele que amamos. Precisamos de atenção, de um prêmio. Nem que seja só por ridículos minutos.

Aí, alguém que nem faz parte da sua vida vem e te indeniza pelos inúmeros momentos negativos do dia-a-dia. Tudo muito efêmero. Nem chega perto do que precisamos. Quando alguém assim surge, é melhor não desperdiçar nada. Cada segundo merece ser guardado naquela gavetinha de lembranças de bons momentos.

Então, é elegante compreender e valorizar quando encontros assim acontecem. Pessoas que nem conhecemos podem nos fazer bem, sim. Isso é digno de ser bem cristalizado na memória.

Que caiam as máscaras
No dia-a-dia, a conveniência nos faz ficar presos a gestos e atitudes que não condizem ao que realmente queremos demonstrar. Somos podados, o tempo todo, de nossa essência. Sorrisos sem graça, toques sem carinho, palavras sem sentimento, elogios como moeda de troca, gentileza por interesse: comportamento contrário à vontade.

Tudo isso adoece o nosso estado emocional. Por isso é que precisamos resgatar quem somos e o que queremos. Nossas máscaras devem ser deixadas de lado para viver quem realmente somos. Se não dá para fazer isso sempre, que seja intenso quando nos é permitido!