sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Suco de laranja interrompido

Não sei quem é aquele homem, mas me lembro de quando o vi pela primeira vez ali na calçada da Bernardino de Campos (Paraíso), na esquina do posto de gasolina. Estava indo ao trabalho, quando ela montava uma mesinha, com um espremedor manual de laranjas e ajeitava um saco dessa fruta ao lado. No dia seguinte, naquele mesmo lugar lá estava ele, se dividindo e se multiplicando para cortar as laranjas, espremê-las, colocar o suco no copo e receber e dar o troco aos clientes que aguardavam, talvez, o primeiro alimento do dia.

Durante quase um ano, vi aquele homem fazendo esse trabalho sozinho. Há alguns meses, imagino que por não dar conta de tantas laranjas, havia um rapaz que, enquanto o outro espremia a fruta, as cortava. Assim, o atendimento era mais ágil e, é claro, as pessoas que ali compravam estavam, pareciam sempre apressadas – como todos na cidade.

Aquele suco já fazia parte da manhã de muitos. Outros decidiam tomar um copo, enquanto aguardavam o verde para atravessar a rua. Tinha dias em que até fila se formava em frente àquela mesa.

Por vezes, ao observar aquele trabalho, com alimentação, pensei na questão da higiene, das bactérias que ali poderiam estar. Mas, minha opinião sobre aquele homem e depois também sobre o outro ficou focada na valorização do trabalho. Informal, eu sei, mas será que eles não gostariam de estar com os benefícios de uma ocupação com carteira registrada? Não sei mesmo. Talvez não.

Mesmo assim, imagino aquele homem, já com uns 50 anos, em casa sem esperança nem chance de conseguir um emprego, até porque pode ser que nem tenha qualificações exigidas pelo mercado. É claro que ele tem experiência em alguma atividade. Mas, quem valoriza? Reconhece e confia? Será que ele teria oportunidade para participar de um processo seletivo e ser considerado capaz, mesmo sendo?

Pode ser ingenuidade minha acreditar que aquele homem seja honesto, trabalhador e apenas não tenha tido chance de ser bem-sucedido. Mas, ainda que não seja nada disso, não me senti bem hoje pela manhã, quando lá estava ele, assim como todos os dias, vendendo o seu suco de laranja quando a fiscalização prefeitura e a polícia civil chegaram.

Umas 8 pessoas que ainda aguardavam o suco ficaram olhando os fiscais colocarem todo o material de trabalho daquele homem na Kombi. Até ele ajudava a carregar o saco de laranja!


2 comentários:

Anônimo disse...

Foi postado em lugar errado, rs
Gostei do texto do suco de laranja...Parabéns!!!

Anônimo disse...

É interessante notar a preocupação das autoridades com um simples vendedor de suco de laranja, enquanto a 25 de Março é um poço sem fundo de mercadorias contrabandeadas... enfim...

Parabéns pelo texto.